Professor: entrelaçando humanidades no caos do ofício
- Navegantes do Perisca
- 16 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 17 de jun.

Depois de um tempo ancorado no cais, nosso projeto volta à vida. Desta vez, um pouco diferente, mas sem perder o desejo de unir forças por um mundo melhor. É hora de falar e refletir sobre educação, estando atentos à profissão mais importante do mundo: a do professor.
As dimensões do trabalho docente
Quando um professor entra em sala de aula, independente de qual nível, ele terá que estar preparado para diversas funções. Dar aulas não é tão somente dar aulas, despejar conteúdo em cima dos alunos, educação bancária, já diria o mestre Freire. Dar aulas envolve múltiplas dimensões as quais não se preparam os futuros e atuais professores. Enumero essas dimensões em: teórica, prática, humanística, cultural e tecnológica. E cada uma delas se subdivide em outras dimensões, tornando o magistério uma das profissões mais complexas e desafiantes da humanidade.
As duas primeiras dimensões são as mais óbvias e as que são mais valorizadas na formação docente. É fundamental conhecer a teoria da educação e como aplicá-la. Porém, quais são os referenciais teóricos que darão suporte aos profissionais? Eles são escolhidos de que maneira? O que aprendemos como prática é o que exercemos in loco? A teoria e a prática servem ao que se espera de uma sociedade e, afinal, o que desejamos como sociedade? A Declaração de Bolonha, documento de integra 29 países europeus e serve como estruturante das Instituições de Ensino Superior na Europa possui um parágrafo que, a meu ver, parece assustador:
“Teremos que fixar-nos no objetivo de aumentar a competitividade no Sistema Europeu do Ensino Superior. A vitalidade e a eficiência de qualquer civilização podem ser medidas através da atração que a sua cultura tem por outros países. Teremos que garantir que o Sistema Europeu do Ensino Superior adquira um tal grau de atração que seja semelhante às nossas extraordinárias tradições culturais e científicas.” Declaração de Bolonha, 1999.
O parágrafo acima citado, retirado na íntegra do documento oficial, mostra que os objetivos europeus estão centrados na competitividade e eficiência. Ou seja, a busca pelas competências socioemocionais, pela colaboração, são uma fala vazia, pois não refletem o verdadeiro objetivo dos IES. Sem contar que o professor universitário tem de ser, obrigatoriamente, doutor, mas não tem a mesma obrigatoriedade para o conhecimento docente seja em práticas de ensino, teorias educativas, desenvolvimento humano etc. É um investigador de excelência, o que não garante que seja um professor de qualidade. As universidades buscam dar formações aos docentes, geralmente com palestras e workshops durante o ano letivo, mas que não garante uma incorporação real do exercício do magistério, já que a carreira de investigador é muito mais valorizada.
As outras três dimensões são as que atingem os professores no seu dia a dia. A dimensão humanística, por exemplo, envolve o desenvolvimento integral do estudante, do ponto de vista social, ético, emocional e promovendo a formação de cidadãos críticos. Não é preciso ser um especialista para perceber o impacto dessa responsabilidade nos professores. Como dar conta de tantos aspetos? E ainda há a cobrança pelo conteúdo. E ainda há as avaliações. E ainda há as reuniões. E ainda há a vida para se viver. E não esqueçamos a dimensão tecnológica que é um caminho sem fim e sem volta, com milhares de novidades a cada dia. E a cultural, pois sabemos que a interculturalidade é um fenómeno cada vez mais presentes nos espaços escolares. Há outra dimensão não citada, mas implícita na prática docente, que é a burocrática. Infinidades de papéis, avaliações, relatórios, sumários, programas.
Em meio a esse volume de funções, o professor tem que introduzir novas metodologias, dar feedback aos alunos, pais, direção, modernizar seu modo de trabalhar e se adaptar aos novos alunos (sempre serão novos alunos, o tempo não para).
Esse pequeno mapeamento da geografia docente não tem a finalidade de apenas apontar o universo caótico em que se encontra a educação. O principal objetivo é buscar pessoas que queiram transformar o caos em estrela, como diria Zaratustra, que queiram refletir, pensar em propostas palpáveis e realizáveis para mudar a sociedade, pois é a educação que mudará tudo. É só verem como os regimes ditatoriais focam no controle das instituições de ensino. Eles sabem que é ali a base para o que se deseja. E, afinal, o que desejamos? Como está não é mais possível continuar, mas quem terá força e coragem para enfrentar essa transformação?
Encerro o texto com perguntas, porque respostas encerram-se em si. Pensemos. Faço minhas as palavras de Flaira Ferro, na canção Faminta:
Não nasci pra ter sonho pequeno
Sou vanguarda na era do pós
Tenho a força do meu pensamento
E carrego a mudança que sou porta-voz
Vamos sonhar grande e juntos. Somos a mudança. Sigo acreditando e buscando companheiros para essa jornada.
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