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Curtir, comentar e compartilhar


As redes sociais estão aí. Já há algum tempo, quando falamos em rede social, pensamos (imediatamente) em uma interface virtual que, vencendo o espaço, coloca-nos em contato - em tempo real - com pessoas mais ou menos distantes, desde que conectadas. “Redes sociais” são hoje, em última instância, um mecanismo de curtir, comentar e compartilhar. Virtualmente. Mas as redes sociais propriamente ditas existem há muito mais tempo. As pessoas vivem, há séculos, há milênios, movimentando-se neste tecido social constituído das relações entre elas. São os papéis e as interfaces entre pessoas que constituem a rede. Assim, curtir, comentar e compartilhar são rótulos para comportamentos desde muito existentes. Curtir já foi apreciar ou, meramente, notar. Comentar já foi dialogar, argumentar, filosofar! Por que não? Compartilhar foi sempre compartilhar. E, às vezes, fofocar. Os rótulos mudaram e, com isso, as pessoas se deixam enganar. Têm a impressão de que há um mundo novo, com desafios também, por sua vez, absolutamente novos. É o mal do “nunca antes na história da humanidade”. Somos, recorrentemente, acometidos por ele. E agora não é diferente.

Um “novo” desafio que anda tirando o sono de gente ligada à literatura é a questão da leitura e do livro. Como desenvolver o gosto pela leitura e pelos livros na geração das “redes sociais”? A resposta me parece simplória: curtindo, comentando e compartilhando histórias. Como é isso na prática? Hão de perguntar. Imagine uma família em uma noite de terça-feira. Uma pessoa começa a rir. As outras ouvem as risadas. Ficam curiosas. Perguntam do que se trata. Com a resposta, riem todos. Estaria a primeira pessoa que começou a rir diante de uma televisão? Ou diante de bichos de estimação? Ou diante de um tablet conectado à internet? Ou diante de um álbum de fotos de família? Ou diante de um... livro!? Ao rir, este indivíduo não apenas notou uma situação como, implicitamente, comentou “engraçado”, ou, para ser mais contemporânea “rs”, “kkkk”, “lol” – vai depender da entonação e intensidade da risada do sujeito. É bem possível que você já tenha passado por algo parecido. Chamado um familiar para mostrar a ele um meme recebido por um grupo no whatsapp. Ou para mostrar um vídeo que te deixou sem fôlego de tanto rir, no vimeo ou no youtube. Ou para esbravejar sobre absurdos políticos postados em uma timeline no facebook. Ou, quiçá, para notar com você a passagem de um livro que você estivesse lendo. Uma “quote” ou citação nova para a coleção. Eu certamente já experimentei essas situações e sigo experimentando todos os dias. Fui criança e na minha casa era comum, no almoço, compartilhar as novidades do dia. Era comum, à noite, comentar um filme ou um livro. Não raro, provocados pelos comentários de outros, corríamos atrás do filme ou do livro para ver ou para ler também. Assim despertaram em mim o gosto pela leitura. Por livros. Por histórias. Por cinema. Por artes plásticas. Por política. Por ciência. Por filosofia. Por pessoas. Pela vida. Curtindo, comentando e compartilhando em família. E na escola também. E depois, entre amigos. A rede foi aumentando, você pode imaginar...

Então, se me perguntarem: como promover o gosto pela leitura em tempos de redes sociais e do mundo digital? Eu responderia, simploriamente: como sempre! Curtindo, comentando e compartilhando. Livros também.






ANDRÉA PELAGAGI, 35 anos, nascida em Minas Gerais, vive há mais de dez anos na cidade de São Paulo, onde trabalha como consultora de marketing e gerente de projetos. Formada pela universidade de Brasília em Relações Internacionais e Ciência Política, é corredora amadora, apaixonada por viagens e livros, e por enxergar poesia além dos versos. Participou de diversas coletâneas de contos e de poesia. Teve seu primeiro livro solo de poemas publicado em 2013 – ao Ocaso. Publicou três livros infantojuvenis – (Im)previsível, As Amigas que fiz e Estoria, e teve seu conto O sorriso de Okan selecionado pelo Prêmio Sesc de Literatura (Categoria Monteiro Lobato). Em 2016 participou da Feira do Livro de Lisboa e do Fliaraxá, lançando seu primeiro livro de crônicas – Soprando meu dente de leão



























































































































































































































































































































































































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