Como acabar com a educação em 10 passos
- Navegantes do Perisca
- há 14 minutos
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Esse pequeno manual tem como objetivo facilitar a vida aos educadores de gabinete ou, como gosto de chamá-los, pseudo-educadores. Muitas vezes pessoas que sequer pisaram em um chão se sala de aula como professores ou que frequentaram ambientes escolares apenas como alunos atuam como portadores de soluções milagrosas. E esse milagre pode acontecer se os 10 passos a seguir forem seguidos a contento:
1º - Forneça aos docentes capacitação superficial e aleatória. Aposte nos mais variados temas para workshops e palestras, pois a variedade temática impede de aprofundar qualquer debate. Use alguns termos em língua estrangeira, prioritariamente em inglês que é a “língua da ciência” e algumas receitas de técnicas milagrosas. Não funcionará pedagogicamente e é um modelo vistoso e uma excelente vitrine.
2º - Ouça os seus professores, mas não os escute. Use a técnica de franzir as sobrancelhas (aparente atenção), eventualmente um maneio de cabeça, com cuidado para não errar quando for afirmativo ou negativo e um sorriso de encerramento é eficiente. Queixas e opiniões devem ser descartadas assim que o pseudo diálogo for encerrado, afinal quem quer saber de salas de aula sem condições básicas, quando se tem coisas mais importantes para fazer como medir índices e dizer que usamos metodologias com nomes fixes?
3º- Incentive a distância entre professor e aluno. O contacto próximo pode promover vínculos afetivos fundamentais para a aprendizagem e isso é muito arriscado, pois quando se tem conhecimento e apoio o questionamento é inevitável.
4º- Promova a falta de tempo e partilha entre os professores. Professor com tempo ocioso é um perigo e ao partilhar com seus pares é possível que percebam o quanto são importantes e a soberba é um pecado capital. Uma carga horária elevada e espaços mínimos para partilha são essenciais para mantermos o controle e preservarmos o sistema. Não esquecendo que a partilha, mesmo em momentos mínimos, devem ser feitas sob o olhar atento de alguém que os supervisione, senão acabará em conversa (a)fiada e isso é um mau sinal.
5º- Torne a escola um local burrocrático. A comunidade escolar tem que entender que quanto mais burocracia, menos tempo de reflexão e o volume da papelada faz parecer que alguma coisa está sendo feita. Lembre-se: dificultar os caminhos é a melhor forma de não se chegar a lugar algum.
6ª- Elabore currículos desatualizados e engessados. Quanto maior a rigidez curricular, maior a chance de idiotizar a sociedade e isso é essencial para formarmos cidadãos apáticos e sem futuro.
7º- Avalie sempre, muito e metricamente, afinal o que interessa a todos são as notas. Os números não mentem (será) e transformá-los em gráficos inúteis é uma ótima distração para discussões vazias. Com avaliações métricas construímos rankings e isso é visualmente muito interessante, embora não reflita a realidade.
8º- O sucesso de um ano letivo é estabelecido pela taxa de aprovação dos alunos e não pelo aprendizado deles. A construção da aprendizagem leva tempo, adaptação e isso não cabe em um ano letivo. Crie muitos mecanismos para obter nota, não esquecendo que boas notas não são, necessariamente um sinal de boa aprendizagem. As taxas de aprovação se manterão sempre em patamares elevados com essa estratégia.
9º- Aposte no marketing escolar e jamais na comunicação. O marketing traz visibilidade, enquanto a comunicação levanta questões, dúvidas e promove a reflexão. O foco deve ser sempre estético e cosmético, nunca, em hipótese alguma, prático e ético. Escolha sempre as proparoxítonas corretas.
10º- Reproduza o que dá certo em outros cenários, independente de contexto. A imitação é uma forma eficaz de
minimizar os erros e ter um culpado pré-estabelecido.
Seguindo esses 10 passos básicos você garante a morte da educação de forma lenta, dolorosa, angustiante e aterradora para quem acredita nela e satisfatória para quem quer a manutenção de uma sociedade adoecida e submissa. Será catastrófico, mas pelo bonito de se ver.
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